18 de janeiro de 2017

Minha Trajetória Financeira - Parte I

"Uma pessoa pode ter uma infância triste e mesmo assim chegar a ser muito feliz na maturidade... Da mesma forma pode nascer num berço de ouro e sentir-se enjaulada pelo resto da vida." 
(Charles Chaplin)

Olá prezados leitores, tudo bem? Hoje irei abordar pela primeira vez um pouco da minha trajetória e alguns aspectos pessoais que hoje moldam a minha capacidade de interpretar o mundo a minha volta.

Eu nasci numa família classe média baixa que passou por alguns altos e baixos na vida, talvez mais altos do que baixos. Tanto meu pai quanto minha mãe vieram de uma família muito pobre e numerosa, e talvez estas adversidades na vida fizeram com que os meus pais assumissem responsabilidades muito cedo, principalmente dando valor ao estudo e ao trabalho.

Além de possuirem um estilo de vida simples, não trocarem de carro frequentemente, morarem na mesma casa a mais 40 anos e não possuirem dívidas, eles me mostraram que a vida se torna mais fácil pra quem trabalha e se dedica. Além disso, me explicaram a importância de poupar para alcancar os objetivos e tomar riscos quando necessário. Irei abordar alguns pontos da minha infância e adolescência ressaltando alguns pontos que me marcaram.
Infância e Adolescência do Aportador

Infância


A alta inflação na década de 1980 foi que algo me marcou profundamente. Mas peraí Aportador, como uma criança saberia o que era inflação? Meu pai tinha um pequeno comércio e eu sempre gostava de ir fazer as compras com ele, aprendia a fazer as contas de cabeça, calcular a margem de lucro e observava a quantidade de gente que comprava "fiado" porque não tinha dinheiro. E quando as pessoas recebiam o salário, elas queriam estocar o máximo de mantimentos até o final do mês.

Naquela época, o comércio do meu pai tinha muito estoque e muito movimento em relação aos tempos atuais, pois naquela época não havia grandes supermercados nem cartão de crédito. 

Pelo fato do meu pai ter uma família muito numerosa, ele resolveu abrir uma empresas prestadora de serviços para empregar os irmãos e manter a família unida. Não preciso nem dizer que administrar uma empresa familiar sendo chefe dos irmãos não iria dar muito certo. Aproveitando o aumento das receitas da empresa, meu pai comprou um terreno perto da casa onde morávamos, reformou a nossa casa e conseguiu comprar tudo necessário para empregar todos os seus irmãos na prestadora de serviços.

Enquanto isso eu estudava em uma escola particular, mas nunca viajava ou tinha brinquedos caros, pois eu brincava na rua e ficava um pouco no comércio. Como eu tinha a real noção de quanto era difícil para conquistar as coisas na vida, sempre tive a convicção que o estudo seria um alicerce para ter um padrão de vida melhor.

Lições aprendidas na infância:
  • Em um cenário de alta inflação, rendimentos de empresas (ações) tem uma perfomance melhor que quem recebe salário (renda fixa).
  • Não tente carregar a sua família nas costas, ajude na medida do necessário mas não tente carregar a cruz de ninguém. Empresa familiar deve seguir o seguinte ditado popular: "Família, família, negócios à parte".
  • Se você quer melhorar de vida, estude e confie no seu potencial.
  • Quando eu queria algo que meus pais não podiam me oferecer eles me falavam: "Estude bastante, trabalhe para conquistar suas coisas no futuro".

Adolescência


Neste período aconteceu algo que nos marcou profundamente. Durante a dédaca de 1990, meu irmão mais velho se tornou pai precocemente e não tinha completado os estudos pois não teve interesse em estudar. Meu pai resolveu chamá-lo para trabalhar na prestadora de serviço (era uma pequena tranportadora).

O maior cliente da pequena transportadora era uma construtora que estabeleceu o regime de permuta, ou seja, os carros trabalhavem e em troca receberiam um imóvel (na planta). Pois bem, depois de ter pago dois imóveis na planta e tendo recebido apenas um, a construtora entrou em falência e ninguém recebeu nada, literalmente nada!!! (Não existia a lei do patrimônio de afetação).

Situação do imóvel após a falência da construtora (Imagem ilustrativa)
Não foi por falta de aviso, pois os diretores da empresa deram algumas dicas antes da construtora falir. Neste mesmo momento, o meu pai estava alavancado por ter investido na compra de mais um ativo para a empresa. 

Me lembro como foram esses períodos na minha família, mas embora o momento fosse delicado, meus pais já passaram por momentos mais difíceis. Eu tive que sair da escola particular e passei para escola pública. O único "luxo" que eu tive foi continuar na escola de inglês.

Depois de algumas negociações, a construtora pagou com alguns materiais de construção. Com este material, meu pai resolveu começar a construir imóveis simples para aluguel no terreno que comprou na década anterior.

Embora possa ter vivenciado estas experiencias de empreendorismo de perto, minha família me passava as orientações existentes na mentalidade do "Pai Pobre" do livro Pai Rico, Pai Pobre : "Estude, faça uma faculdade e arrume um bom emprego". Eu até entendo o ponto de vista deles, mas naquele momento da adolescência eu não tinha maturidade suficiente e estava interessado em outras coisas.

Lições aprendidas na adolescência:
  • Diversifique o risco da sua carteira. Meu pai estava altamente concentrado com um único fornecedor e ainda estava alavancado investindo em ativos da empresa.
  • Esteja preparado para as adversidades. Por pior que sejam naquele momento, acredite que você pode superá-las.
  • Busque fontes alternativas de renda. Pois ao receber o material de construção como forma de pagamento, resolvemos construir imóveis simples para gerar renda de alugueis.
  • Não tenha filhos precocemente na sua vida, pois isso pode influenciar negativamente tanto a sua vida quanto do(s) seu(s) dependente(s).

 

Considerações finais


É claro que naquele momento eu não tinha a visão que tenho hoje, mas é importante analisar as lições aprendidas de algumas fases da sua vida. Se hoje estou onde estou, devo muito aos meus pais.

Pretendo abordar as demais fases da minha vida, sempre colocando alguns fatores que possam ser úteis para as pessoas que estejam começando a sua jornada para não incorrerem nos mesmos erros.

Até a próxima, grande abraço.

20 comentários:

  1. Me identifique com algumas passagens e sua trajetória. Também me lembro bem do período de hiperinflação. No dia do pagamento minha mãe ficava de prontidão. No meio da tarde meu pai ligava confirmando que o salário foi creditado na conta e eu e minha mãe corríamos para o supermercado. Sempre tinha um cara que rodava o supermercado o dia inteiro remarcando preços. Não eram raras as vezes que eu tomava um produto da mão dele antes que fosse remarcado... rsrssrsrsrs
    Também tive uma infância sem mordomias... Passava o dia brincando na rua e achava um maravilha... Bons tempos!!!

    Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso mesmo Investidor de Risco,

      O mais legal é que não havia a violência que existe hoje, podíamos passar o dia brincando na rua e era tudo uma maravilha. Pena que hoje em dia a geração mais nova não tem essa oportunidade, todos vivem com medo de serem assaltados.

      Bons tempos. Grande Abraço.

      Excluir
  2. bom vou só me contrapor em um ponto. Filhos, eu tive quando tinha 20 e 22 anos, hoje eles simplesmente se viram, estou com 38 de boa na canoa.. rsrs.. não muito.. mas vejo que pais mais velhos. babam seus filhos e mimam alem do que deveriam, e em breve teremos uma geração de bundões sem precedentes! O que é até bom para quem for inteligente e independente !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que legal Cleber, parabéns pela criação que você deu aos seus filhos.

      O exemplo que eu tive com o meu irmão é que ele estava no grupo dos "Nem Nem" (Nem estudava e nem trabalhava), por isso ele não estava preparado para ter filho naquele momento.

      Eu ainda não tenho filhos, mas acredito que a melhor forma de educá-los é através do exemplo, pois é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe. Eu também acho que os pais que babam os filhos demais acabam criando adultos frustrados e muito dependentes.

      Obrigado pela visita, grande abraço.

      Excluir
  3. Muito legal o seu relato, Aportador. Empresa familiar dificilmente da certo.
    Abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Micro Investidor Nerd,

      Eu até pensei em ajudar a administrar a empresa, pois tem uma carteira de clientes de vários anos e está bem estável. Mas por enquanto, eu apenas ajudo na parte contábil sem me envolver com o dia a dia.
      Se a empresa familiar for bem administrada, pode oferecer um bom retorno.

      Abraços.

      Excluir
  4. Também me lembro bem dessa época, tempos difíceis. Me recordo que de manha era um preço e a tarde o preço já mudava, era a inflação fazendo o seu trabalho sujo.

    Vlw

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade Marujo,

      O valor do dinheiro em espécie não valia nada, de vez em quando tinha corte dos "três zeros". É nessas horas que eu vejo a importância de diversificar a carteira no exterior, imagina se um político populista ganha a eleição em 2018?
      Parece improvável que o Brasil volte a ter hiperinflação, mas tudo é possível

      Obrigado pela visita, grande abraço.

      Excluir
  5. Olá AF,
    Parabéns pela história de vida. Bom que você sobre aproveitar a vida que seus pais lhe proporcionou.
    Também sou dessa época, a diferença é que morava na zona rural.

    Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Cowboy, obrigado pela visita.

      Eu acho que a vontade de melhorar de vida impulsiona a pessoa a aproveitar as oportunidades. A vida na zona rural deveria ser mais tranquila, em outro ritmo de que vivemos na cidade.

      Abraços

      Excluir
  6. "Tenha filhos cedo, para que eles um dia possam aprender contigo e escrever textos sobre suas trajetórias financeiras"

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Anônimo, obrigado pelo comentário.

      O fato de ter filhos precocemente (aos 18 anos por exemplo) pode possivelmente trazer mais responsabilidades para um jovem que não tem maturidade suficiente. Mas cada caso é único, a experiência que tive na minha família não teve um resultado favorável.

      Mas não devemos analisar somente no aspecto financeiro, pois existem momentos e relações entre pais e filhos que não tem preço. Além disso, eu escrevo a minha simples trajetória financeira para quem sabe orientar alguém pro bem ou servir de contra-exemplo para ajudar as pessoas.

      Abraços

      Excluir
  7. Legal o relato Aportador!

    Não peguei essa fase da hiperinflação, mas imagino que devia ser bem tenso... Legal as lições que tirou também !

    Abs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fala Investidor Inglês, blz?

      Eu não lembro com muitos detalhes pois era criança, mas sei que a grande maioria da população era prejudicada com a hiperinflação. O importante é analisar os prós e contra de cada situação e tirar lições.

      Ainda irei abordar como comecei na bolsa de valores (perdendo dinheiro por falta de informação é claro!).

      Grande Abraço.

      Excluir
  8. Fala, O Aportador...

    Empresa familiar é isso mesmo: Nunca dá certo. Família idêntica aqui. Eu penso em ajudar a família no futuro, mas está difícil, tudo cabeça oca. São estagnados, não gostam de melhorar de vida.

    Abs,
    50segundos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá 50Segundos, obrigado pela visita.

      É exatamente essa situação, a mentalidade atrapalha as pessoas a buscar melhorar de vida, pois pensam que é obrigação ajudar. Eu me mantenho distante das decisões da empresa e continuo com o estilo "low profile" e frugal para não chamar a atenção.

      É claro que numa eventualidade ou problema de saúde eu ajudarei na medida do possível.

      Abraços.

      Excluir
  9. História interessante, bem como as lições que vc extraiu dela. Seu pai é o típico empreendedor "raiz" da época de instabilidade econômica brasileira.

    ResponderExcluir
  10. Nossa que infância e adolescência hein?
    Muitas lições financeiras, impressionante.

    Vou seguir acompanhando!
    Valeu Aportador!

    ResponderExcluir